quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Fuga, capítulo 4

Entrei no mundo das sensações 

decidida a resgatar minha vida;Redesenhando em cada pedacinho de meu ser, amor,desejos, alegrias ...
Rabisco as cicatrizes, permito minha paixão silenciosa, explícita! Arranco as cortinas da noite, durmo de portas abertas tranquila;Na ousadia da timidez, grita minha arte sem leinua, apaixonada, destemida!As emoções inalcançáveis reinam absoluto em minhas fantasias! O meu personagem é de sonho e de pó  levado pelas constantes ventanias...Faço amor sem ver a luz da vela, e agito na escuridão as faíscas...O meu coração não se esquiva, entre o sonho e realidade, a saudade acorda minha vida;Tanto faz quem acredita, a mente em fuga é chama enfurecida.A essência do amor ao despertar da consciência irracional, iludida...O meu pedido foi algemado a tua brisa!

Xama
Fonte: http://sitedepoesias.com/poesias/5

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Divisor de águas, muito clichê, capítulo 3

Na pior fase de sua vida, quando nada mais fazia sentido ou importava, ela encontrou, com frequência diária, o enviado em forma de anjo e personificado. Era o ouvido que a escutava e era com ele que ela se sentia bem. Nada de muito intenso, apenas aquela boa companhia começou a ser a melhor parte dos seus dias.

Todos os dias ela o esperava, procurava e se fazia presente.
Todos os dias ela se encontrava com o melhor dela,
A cada dia ela era melhor por ela,

O Deus, que a abandonara, fez-se presente novamente e não era um Deus que castigava.

Muito clichê esta tábua de salvação inclusa pelo destino, mas foi exatamente assim que aconteceu. A proximidade era cada vez maior, assim como os laços que os envolviam. E este envolvimento tornou-se amor. Um doce relacionamento cheio de trocas, conversas intermináveis, compreensão e carinho. Um relacionamento onde o silêncio não era incomodo, o amor e o bem querer era explicito.

Assim foi por muito tempo.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Divisor de águas, lixo, capítulo 2

Dos 13 aos 23 ela conheceu o melhor e o pior do ser humano. Conheceu as bençãos de um Deus bondoso e Sua ira, exclusão e excomunhão. Na época a Igreja Católica dominava o cenário religioso. Detentora do poder espiritual, influenciava o modo de pensar, a psicologia e as formas de comportamento. A igreja também tinha grande poder econômico, pois possuía terras em grande quantidade e até mesmo servos trabalhando. Os monges viviam em mosteiros e eram responsáveis pela proteção espiritual da sociedade. Passavam grande parte do tempo rezando e copiando livros e a Bíblia.

Se revoltou contra Aquele Deus que lhe deu e tirou tudo, incluindo a dignidade e a vontade de viver. Em certo ponto de sua dor, não queria mais filhos ou a vida, queria somente o fim. Conheceu o sofrimento, a crueldade dos cobradores de impostos, a morte de seus pais e a guerra que era uma das principais formas de obter poder. Os senhores feudais envolviam-se em guerras para aumentar suas terras e poder. Os cavaleiros formavam a base dos exércitos medievais. Corajosos, leais e equipados com escudos, elmos e espadas, representavam o que havia de mais nobre no período medieval. O residência dos nobres eram castelos fortificados, projetados para serem residências e, ao mesmo tempo, sistema de proteção.

Seu castelo, sua casa, lhe protegia do que?

A rua e o dia, mesmo que sempre nublado e cinza, eram seus consoladores. Seu andar, muitas vezes sem rumo, entre lixo, esgoto e restos devorados era o melhor que tinha. Suas noites eram temperadas no inferno.


Divisor de águas, transformação, capítulo 1

Seu nascimento foi motivo de muita alegria, embora a preferência fosse por um menino. A mãe muito jovem e o pai trabalhador, camponês e agricultor, encheram-na de amor e carinho, pois a pobreza e as limitações impediam-lhes de uma boa alimentação ou abrigo.

No mundo nascíamos sob a vontade de Deus: ou senhores ou servos. A estrutura social praticamente não permitia mobilidade, sendo portanto que a condição de um indivíduo era determinada pelo nascimento, ou seja, quem nasce servo será sempre servo. Utilizando os conceitos predominantes hoje, podemos dizer que, o trabalho, o esforço, a competência e etc, eram características que não podiam alterar a condição social de um homem.

O senhor era o proprietário dos meios de produção, enquanto os servos representavam a grande massa de camponeses que produziam a riqueza social. Porém podiam existir outras situações: a mais importante era o clérigo. Afinal o clero é uma classe social ou não? O clero possuía grande importância no mundo feudal, cumprindo um papel específico em termos de religião, de formação social, moral e ideológica. No entanto esse papel do clero é definido pela hierarquia da Igreja, quer dizer, pelo Alto Clero, que por sua vez é formado por membros da nobreza feudal. Originariamente o clero não é uma classe social, pois seus membros ou são de origem senhorial (alto clero) ou servil (baixo clero).

"Na sociedade alguns rezam, outros guerreiam e outros trabalham, onde todos formam um conjunto inseparável e o trabalho de uns permite o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta seu apoio aos outros" Para o bispo, o conjunto de servos é "uma raça de infelizes que nada podem obter sem sofrimento". Percebe-se o discurso da Igreja como uma tentativa de interpretar a situação social e ao mesmo tempo justifica-la, preservando-a.

Nesta sociedade, cada camada tem sua função e portanto deve obedece-la como vontade divina.
Ela nasceu serva, pele branca, cabelos negros e olhos verdes, cresceu aprimorando esta beleza e alienada às duras condições de sua vida e dos demais. O senhor feudal, homem abastado e solitário lamentava a perda de sua jovem esposa, vítima de uma febre muito alta, que sem maiores diagnósticos e por vontade de Deus se foi. Entre a tristeza da perda e a severidade com seus servos conheceu e apaixonou-se novamente.

Menina linda, de roupas rasgadas, cara suja e cheirando mal transformou-se em um princesa após aquele lindo, amável e envolvente encontro-casamento. De menina à esposa em pouco tempo, sua juventude foi de riqueza, luxo, fartura e amor. Mesmo sem saber exatamente o que significava amar, entendeu na prática que amar, que é cuidar, abençoar, proteger e entregar seu corpo e alma ao outro.

Feliz com tantos recursos, roupas, aquecimento e alimentos, seu rico lar era seu castelo. Em nada importava-se ou influenciava na forma rude de tratamento dos servos, na injusta divisão da colheita ou no afastamento de seus amorosos pais. Apenas agradecia ao bondoso Deus por tudo que Lhe dava e por seu sempre amável e cuidadoso esposo.

No mundo feudal não existiu uma estrutura de poder centralizada. Não existe a noção de Estado ou mesmo de nação. Portanto consideramos o poder como localizado, ou seja, existente em cada feudo. Apesar da autonomia na administração da justiça em cada feudo, existiam dois elementos limitadores do poder senhorial. O primeiro é a própria ordem vassálica, onde o vassalo deve fidelidade a seu suserano; o segundo é a influência da Igreja Católica, única instituição centralizada, que ditava as normas de comportamento social na época, fazendo com que as leis obedecessem aos costumes e à " vontade de Deus". Dessa forma a vida quase não possuía variação de um feudo para outro.

Poucos anos se passaram e muita alegria foi acumulada. Para sua vida não faltava absolutamente nada, mas seu esposos, instigado por seus serviçais, pelo falatório das ruas, por escritas nos muros, pichações na igreja e principalmente pelo bispo, seu amigo pessoal, a vinda de um herdeiro era indispensável.

Sem engravidar por anos a frustração do esposo transformou-se, aos poucos, na imposição de privações, em traições, exclusão gradativa do amor, agressões verbais, agressões físicas, castigos e estupros. Com sua rica casa desfeita, aproximou-se de seus servos, dividia o pouco que lhe era dado, saia de sua casa e visitava seus pais, os doentes, os famintos e voltava para seu castelo apenas feito de pedras.

Nada de filhos.
Nada de amor.
Sua vida havia tempero de dor.