Vi um homem jovem e bonito, com um elegante terno claro, cabelos bem aparados, mas moderno corte, alto, moreno, olhos grandes e castanhos. Achei interessante a cena, pois todos estavam indo na calçada, percebi todos indo de roupa escura e ele, único, voltando de roupa clara.
O sinal estava fechado e eu parada observando os passos dele contrários ao da multidão. A cena era bonita, contraditória e admirável. Rapidamente pensei em um significado para o fato, algo que aquele único quisesse me dizer.
Se fez a luz em meu conturbado pensamento, se veio a voz, que é minha, falando o significado: são pouquissimos os que não guardam ressentimentos, são poucos que vêem beleza nos bons sentimentos e os valorizam, menos os que acreditam no amor, menos ainda os capazes de perdoar e apenas um é capaz de expressar tudo que sente e ser feliz.
Há pouca felicidade então (?), pois a dor, no momento sentir, torna as pessoas escuras, distantes, mas protegidas. Não pensei algo bom sobre as pessoas que estavam indo, pensei angustia, solidão, sofrimento, ressentimento, inveja, vingança, desordem, descrença, desentendimento, desconfiança, incapacidades, cinismo, pessoas que acreditam apenas na evolução pela dor do semelhante - "se ela cair ela volta melhor" ou "ela precisa perder para dar valor" ou "a grama do vizinho é a mais bonita" ou "quanto mais alto maior o tombo" ou "tua derrota é a minha vitória" ou "a vida vai te ensinar" ou "me procura só na hora do aperto" ou "eu avisei" ou "tu não imagina do que sou capaz" ou (...) tantos ditos populares.
Ainda bem que só vi o rosto do moreno de terno claro.
Ainda bem que o sinal abriu e eu fui embora.
Acredito na evolução pelo amor, como primeira e grande opção oferecida de forma gratuida, generosa e abundante. A segunda ... bom deixa pra lá!
Temperar a vida com grandes oportunidades aproveitadas de amar de forma gratuita, sem cobranças ou dividas. Fazer por fazer o justo. Servir por servir para o bem. Amar por amar o semelhante e o diferente!