sábado, 14 de novembro de 2009

Os livros que eu não li.


Era uma sexta-feira e ele chegou pontualmente as 18 horas e 30 minutos em casa, estacionou seu carro na estreita vaga, era um dia chuvoso, muito frio e com muito vento. Não havia outro querer que o aconchego do sofá, do cobertor, do vinho tinto e dos petiscos prontos do armário.

Foi exatamente como todas as outras sextas-feiras: banho, chinelo, roupa confortável, sofá, celular próximo e comidinhas prontas. Simples e fácil assim.
Não fosse por um detalhe completamente diferente de todos os outros dias: ela ainda não tinha chegado . ? ! ... , : Onde ela foi . ? ! ... , :

O tempo passou e ele percebeu que havia algo diferente no ar, sua espera se transformou em angustia, de angustia para ansiedade, de ansiedade para tristeza, de tristeza para solidão e de solidão para "e agora" . ? ! ... , :

Levantou lentamente, com esperança em uma virada emocionante na história. Chegou a ficar imóvel por poucos segundos, fechou os olhos, mas sua realidade era diferente naquele dia e realmente haviam objetos em outros lugares, vazios nas estantes, livros, cds, lps e dvds faltando e a coleção inteira de taças coloridas de cristal não estava na cristaleira de 1823.

A maior falta sentida era a dela e os objetos eram apenas símbolos do vazio. Não havia justificativa, nem entendimento, apenas as dúvidas, a falta de respostas e a confusão, desorientação momentânea. Olhou para o teto, as paredes e para a porta e encontrou, na porta da geladeira, preso pelo imã "Estive em Barretos e lembrei de você" um envelope. Dentro uma carta, nas palavras a justificativa e algumas poucas respostas:

Eu quero ser poeta e ter a linguagem perfeita, assim como a forma para falar contigo. Não quero meias palavras ou artimanhas ou conquista baratas ou papos furados.

Eu quero simplesmente calar e ser entendida.

Eu quero ser modelo e ter o corpo perfeito, aquele que é perfeito para mim ser tua cada vez que assim quisermos. Não quero estrias ou celulite ou gordurinhas localizadas e principalmente não quero não-me-toque.

Eu quero simplesmente despir e ser entendida.

Quero rir, divertir, dançar, cantar, beber, comer, cozinhar, sair, conversar e estar sempre acompanhada do amigo e do amante - tudo em um só. Algumas vezes mais amigo e algumas vezes mais amante. E que exista distância e espaços individuais. E que exista respeito com esta individualidade. Que tua presença seja constante no meu sentir e na tua falta eu sinta realmente falta e não alívio.

Eu espero que esta carta seja o nosso começo.


Ele pegou o celular e na necessidade de respostas e de solução imediata - ligou para ela. Tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou, tocou e caiu. E ele não se deu por vencido mandou a seguinte mensagem: sinto um imenso alívio por sentir muito e realmente a tua falta.

Eu temperei o dia de hoje com um pouco de dor, angustia, ansiedade, tristeza e solidão, com muita saudade, com a minha eterna e inveterada esperança, com meu melhor, com meus desejos, orações e pedidos. Carreguei meu dia com boas energias.
Por fim, te amei, na falta, mais um dia!

E vai entender?