Cena 1: ela comprou uma sandália preta com uma amiga no shopping e esta amiga comentou que, quando compra alguma coisa nova, sempre dá alguma coisa que não quer mais.
Cena 2: ela me contou uma frase que leu na boleia de um caminhão "ninguém é tão podre que não possa doar".
Cena 3: ela deu um latinha inteira de Coca-Cola, seu líquido sagrado, hoje nada ficou. E o guardador de carros, o de sempre, retribuiu com muitos agradecimentos. Não há preço para a sede sanada com o líquido geladíssimo.
Cena 4: ela me contou algo que eu já sabia. Coisas paradas e sem uso, são energias estáticas, que só fazem mau para quem alimenta o "guardar".
Ela chegou em casa e colocou todos os seus sapatos no chão, organizados aos pares e lotou uma sacola com os: para conserto, fora de uso, fora de moda, me machuca, muito alto, muito baixo, esta cor eu não gosto ou simplesmente não quero mais.
Outro dia, durante uma das madrugadas, agora comuns, sem sono. Abriu o guarda roupa e revisou cabide por cabide, prateleira por prateleira e excluiu as seguintes peças: tenho que emagrecer para usar, está apertado, está largo, tenho repetido, não usei em uma temporada, tem que ir para a costureira, ainda não usei e certamente não usarei, usei só uma vez, vai ficar ótimo na fulana, a fulana adora e eu não, porque comprei, com lembranças que quero esquecer, que cor horrível, não preciso ou simplesmente não quero.
Fez a mesma coisa com a papelada que se junta durante os dias, meses e anos. E organizou tudinho. Agora sabe onde está aquele documento do carro de 2003, o certificado de conclusão de curso de 2001. Tudo que sobrou desta organização foi para o lixo reciclado ou os documentos com nome, foram queimados.
Ainda falta ela arrumar as maquiagens, parece que tem umas 15 caras de tanta coisa que tem e as bijus. Deve possuir, por baixo, uns 15 pescoços, 22 braços e 110 orelhas.
Ela não quer virar o ano com estas energias e com estes excessos. Quer novo, novidade e felicidade. Possuir o que realmente precisa.
E como se precisa muito menos do que se tem!
Temperar a vida com a reflexão entre o ser e o ter.
terça-feira, 19 de dezembro de 2006
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